SETE LIÇÕES QUE APRENDI COM OS IDOSOS – 2022: Livro de não-ficção: contém relatos de idosos abrigados em uma instituição. Nessas páginas foram captadas lições essenciais para a vida.
O projeto foi realizado através de entrevistas a alguns idosos residentes na Vila Fraternidade. Essa instituição sem fins lucrativos foi fundada em 29/05/1998, na cidade de Presidente Prudente – SP. São 20 casas destinadas ao acolhimento com capacidade total pra 40 idosos. A base da arquitetura consiste num projeto integrado, onde as casas foram construídas lado a lado e possibilitam a convivência de dois moradores em cada unidade. As casas têm 38,00m², com quarto, banheiros adaptados com barras de segurança, sala, cozinha, área de serviço e varanda. Assim as casas tornam-se apêndice dos espaços de uso coletivo, como refeitório composto de cozinha e banheiro, biblioteca, sala de artes, salão de convivência com banheiros adaptados, sala de convivência e jogos, sala do Serviço Social, sala de atendimento psicológico, sala da administração, sala da nutricionista, sala de medicação e espaços ao ar livre (academia, praças e jardins). Salientando que para admissão, além da idade, o idoso deve ter autonomia tanto física quanto psicológica.
O objetivo principal era tecer as lembranças mais felizes e/ou marcantes da infância, da fase adulta e da maturidade, qual colcha de retalhos, para que esse conjunto individual servisse de comparativo aos demais, resultando assim em similaridades que pudéssemos analisar — esse estudo seria estritamente intuitivo, sem nenhuma finalidade acadêmica, mesmo porque não me considero apta para essa função — seria, portanto, uma forma de reconhecermos a jornada — embora superficialmente — que poderemos percorrer ao longo de nossas vidas.
No entanto, já na primeira entrevista percebi que esses idosos tinham lições profundas a nos ensinar, e esse passou a ser o mote do projeto.
Destacando que não creio que apenas o tempo traga sabedoria. A quantidade de tempo apenas amplia a quantidade de fatos que nos são apresentados (quanto mais tempo mais há sucessões de fatos), porém, a forma como reagimos a estes fatos é o que irá definir nossa evolução ou estagnação como humanos.
Existem idosos que estão com os mesmos pensamentos enrijecidos da juventude e pessoas com menos de trinta anos que estão demonstrando atitudes sábias que acreditávamos serem possíveis somente depois dos sessenta anos.
Então: O tempo e suas consequências são muito relativos, e dependem mais de nós do que da simples passagem de horas, dias, meses e anos.
Dito isso, voltemos especificamente a esses idosos que gentilmente aceitaram conversar comigo.
Não vou aqui relatar os enganos que eles podem ter cometido — como mencionei não tenho capacidade para tanto e nem esse é o objetivo — mas, de maneira geral posso dizer que eles foram assertivos na maioria de suas escolhas.
Por esse motivo é que eles podem nos passar lições — intrínsecas a cada um — que eles nem se dão conta que aprenderam. Elas foram diluídas no tempo e no caminhar.
E se há similaridades em suas jornadas? Sim, contudo a singularidade de cada ser supera. Realmente cada ser humano é um universo em si (autor desconhecido).
E foi por respeito a cada um desses universos que alterei os nomes verdadeiros dos entrevistados para nomes bíblicos — achei justo usar esse critério uma vez que todos mencionaram a bíblia em nossas conversas — Salientando que fiz escolhas aleatórias, desejando que não fizéssemos comparações com as personalidades bíblicas.
Ressaltando novamente que o motivo foi para preservar a individualidade — embora todos tenham me autorizado a publicar seus relatos — e as comparações e julgamentos alheios.
Confesso que esse trabalho de escrever não ficção pela primeira vez me rendeu o inimaginável — e não me refiro a parte literária a qual não me cabe avaliar — esses mergulhos nesses universos tão únicos elevou a minha consciência e acresceu meu respeito ao ser humano na sua totalidade, independente de sua idade.
Espero que essas histórias também os toquem e que as lições sirvam para nortear nossas jornadas.
Gratidão a essas pessoas maravilhosas que me abriram as portas da instituição e de seus corações.
E O FIM...
Depois de findar essa jornada de escrita, confesso que contraditoriamente a palavra que vem a minha mente é INCONCLUSIVO!
Sim, não há espaços para definições fechadas.
Nossas vidas — mesmo as que consideramos simples e sem grandes desafios — são únicas, preciosas e cheias de nuances indescritíveis!
Em nossas caminhadas seremos envolvidos por lágrimas, sorrisos, acertos, erros, e outras infinidades de sentimentos, atitudes e escolhas; e aí está a beleza! Assim nos tornamos humanos!
A vida realmente se assemelha a uma colcha de retalhos.
Cada pedacinho feito com tecidos diferentes, com cores e imagens diferentes vão se juntando com o arremate do tempo; no início pode parecer que a composição destoa do esperado, porém, após finda a tecitura vemos a harmonia. Tudo se completa, até mesmo aquele pedaço de chitão junto ao cetim.
Isso é o milagre da vida!
E a nós o que nos cabe?
Vivê-la!
VEJO-TE
Vejo-te tão ser e tão só,
Incompreensível criatura feita de nós,
De arestas, de cadeados, de silêncio.
Vejo-te sem espelhos, maquiagens e mordaças.
Vejo-te
E não te reconheço...
De qual tragédia vieste?
De que assombro?
De qual labirinto?
Está mais magro,
Mais baixo,
Mais alto,
Mais farto.
Farto?
De alimento ou de vida?
De onde vens?
De qual esquina?
De qual palavra?
De qual saída interditada?
Vejo-te.
Abaixo os olhos:
Rua enlameada,
Asfalto quente,
Concreto armado.
Não quero vê-lo
Assusta-me ver-te
Tão igual a mim
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